terça-feira, 26 de abril de 2011

A LEI DO SILÊNCIO (WALCYR CARRASCO)




Três horas da manhã. O vizinho está dando uma festa anos 70. Não fui convidado. Mas é como se estivesse lá dentro. O som invade meu quarto. Faço as contas: pela seleção musical, a turma deve andar na maturidade. Quanto tempo um bando de cinqüentões agüenta ficar saltitando na sala? Eis a resposta: muito! Muitíssimo! A música só pára depois das 4. Volto às cobertas. Inicia-se uma sucessão de barulhos de alarmes de carros sendo desligados. Piiii. Pum. Uóóóóó. Suporto, esperançoso. Os convidados partem! Oh, não! Um grupo fica na minha esquina. Conversando em altos brados. Rindo. Dá vontade de atirar uma bacia d'água! Reflito:

– Impossível resistirem tanto tempo no frio.

Quem disse? Fazem piadas. Flertam. Marcam encontros. Finalmente, quando vão embora, meus olhos ardem. Caio na cama. Acordo poucas horas depois com o ruído de uma serra elétrica. É a obra do vizinho da frente. Em pleno sábado. Cedo! Depois da 1 da tarde, vou falar com o mestre-de-obras.

– Vocês já deviam ter parado.

– É que a gente está com pressa de terminar.

Eu, como fico?

Uma outra casa tem um cachorrinho que late e geme a noite toda. Noite após noite! Nunca ouvi os moradores pedirem para ficar quieto. O cachorro não tem culpa. Os donos deviam estar atentos! Soube de uma obra, recentemente, em um apartamento gigantesco no centro da cidade, onde o morador de baixo chamou a polícia para parar com as marteladas fora de horário. O de cima, ofendidíssimo, ameaçou pular no seu pescoço, porque estava atrapalhando a reforma! Sem falar nas obras públicas. Alguém já enfrentou mudanças na tubulação de gás, com a britadeira na calçada durante a noite inteira? Já passei por isso, durante uns quinze dias. Depois de me revirar na cama durante horas, eu me levantava. Impossível ler. Sentava na sala, esperando o dia. Paravam de manhãzinha. Era tão ruim que eu até ficava aliviado com o barulho do congestionamento!

A questão do silêncio não se restringe a obras, cães e festas. Outro dia dei carona a um casal, depois de uma reunião de trabalho. O rapaz sentou no banco de trás. Ligou o celular. Percorremos uns 10 quilômetros até um shopping. Estacionei. Descemos. Entramos em uma doceria. Ela pediu por ele. Sentamos. Ele continuava na ligação. Esbravejando:

– Veja lá o que está acontecendo! Assim não dá!

Eu e a moça não conseguíamos falar, tal a altura da conversa. Comemos o bolo à espera para falarmos de nossos próprios negócios. Ele desligou. Respirei fundo. Cedo demais! O marmanjo iniciou nova ligação!

Um amigo quase perdeu os tímpanos no elevador. Três senhoras conversavam, uma tentando falar mais alto que a outra.

– Espera, deixa que eu tenho uma coisa para contar...

– Só quero terminar o que estava dizendo...

– Ih! Sabem do que me lembrei?

Ao chegar ao térreo, o rapaz estava zonzo!

Há pessoas que falam alto até no ambiente de trabalho. Em uma redação, havia uma jornalista com voz tão estridente que o crítico de cinema comentava:

– A dublagem devia ser obrigatória!

Já presenciei dois vizinhos de apartamento discutindo. O de cima tocava bateria.

– Ensaio com meus filhos, é uma forma de estarmos juntos, em família!

O outro nem sabia o que dizer: como impedir a união entre pais e filhos?

Ninguém percebe que os outros precisam dormir, que voz alta incomoda? Às vezes, tudo que quero na vida é ficar em paz, bem quietinho. Diz o antigo ditado: "A palavra é prata, o silêncio é ouro". Por mais valioso que seja, o silêncio não costuma ser respeitado como merece!

7 comentários:

  1. COMO DIRIA A VOVÓ: "ESSE MININU VAI LONGE!!!"
    SAUDADES DE VOCÊ AMIGÃO!!!
    TENHO LIDO SEUS TEXTOS.
    COMO SEMPRE...BRILHANTES!
    TUDO DE BOM PARA VOCÊ!!!
    RITA

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  2. kkkkk q zé mininu... !!! .-. kkkk

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  3. Qual é o assunto principal tratado na crônica?
    PORFAVOR RESPONDAM RAPIDO

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  4. A crônica está sendo narrada de modo pessoal e subjetivo?

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